8 de janeiro de 2012

Chico Buarque. A Censura e a Volta do Exílio


No post anterior falamos sobre o começo da carreira de Chico Buarque e sua inserção na música através dos festivais dos anos sessenta, nesse post vamos falar um pouco sobre o momento político que o Brasil vivia e a transição para a década de setenta, eram tempos de ditadura militar e repressão aos artistas. 








A atuação de Chico Buarque esteve sempre na mira da censura. Alguns dias após a decretação do ato institucional n*5 o compositor é levado ao ministério do exército para depor sobre sua participação na passeata dos Cem Mil e sobre cenas da peça "Roda Viva" consideradas subversivas.

A passeata dos Cem Mil, que no dia 26 de junho de 1968 mobilizou cariocas de todas as classes, unidos em torno dos mesmos ideais, foi tematizada em nosso cancioneiro como "Dia de Vitória", dos irmãos  Marcos e Paulo Sérgio Valle.

"É que o povo acorda e vê que o mundo é seu e nas mesmas ruas onde faz as festas, hoje mão na mão faz o cordão do amor"

Em 1969, devidamente autorizado pelo Coronel Átila, de cuja permissão dependia para se ausentar do Rio, Chico Buarque viaja para Cannes, com o objetivo de participar da "Feira Internacional do Mercado de Disco" (Midem). Ao invés de voltar para o Brasil, segue para um auto-exílio em Roma.



Em Roma Chico escreve a letra de "Samba de Orly" cuja melodia lhe é oferecida por Toquinho, a música contou com a parceria de Vinicius, no verso "Pede perdão pela omissão um tanto forçada", vetado pela censura e substituído por "Pede perdão pela duração dessa temporada"
  "Pede perdão pela duração (Pela omissão) dessa temporada (Um tanto forçada) mas não diga nada que me viu chorando e pros da pesada diz que eu vou levando".



De volta ao Brasil em 1970 contratado por André Midani para o cast da Philips, Chico lança em compacto simples a canção "Apesar de você" cuja letra manifestadamente crítica à ditadura, na pessoa do governante, passou desapercebido pela censura. Após o disco atingir a vendagem de 100.000 cópias a música é proibida e os compactos são recolhidos das lojas. Mas a canção já estava na voz dos brasileiros.

  "Apesar de você amanhã há de ser outro dia, eu pergunto a você onde vai se esconder da enorme euforia".

O episódio que envolveu a liberação e a posterior interdição de "apesar de você" alertou de forma definitiva os censores para a assinatura de Chico Buarque. veja o clipe da música que retrata a situação caótica em que o Brasil vivia nesse período:



             "Apesar de você amanhã há de ser outro dia"




"Aniquilar o homem é tanto privá-lo de comida quanto privá-lo de palavra"
Walter Benjamim.



No próximo post sobre Chico, vamos falar sobre a obra dele nos anos 70, os discos antológicos e é claro vamos ter mais músicas relacionadas a ditadura e ao contexto histórico que o Brasil vivia nessa época. Acho importante fazer esse registro pra resgatar a memória da nossa música que foi totalmente influenciada pelo momento político que o Brasil estava vivendo.


A publicação deste texto foi autorizada pela autora, Heloisa Tapajós. Trata-se da reprodução de um trecho do ensaio "Chico Buarque e a Censura nas décadas de 1960 e 1970", que faz parte do acervo do Núcleo de Estudos em Literatura e Música (Nelim/PUC-Rio) e cuja versão integral pode ser acessada aqui:



Heloisa Tapajós é pesquisadora titular do Núcleo de Estudos em Literatura e Música (Nelim/PUC-Rio) e do Dicionário Cravo Albin da MPB.